Vamos ao post polêmico sobre reflexões de Brasília, no pós-viagem.
Vou separar por tópicos para deixar mais intuitiva a leitura. E vamos começar por:
Uma cidade planejada e seus satélites
É incrível o conceito de uma cidade planejada, principalmente no que tange ao plano piloto. E não para por aí, as cidades satélites, criadas para abrigar a população que migrava para Brasília em busca de trabalho, especialmente na construção da nova capital, hoje, são importantes centros urbanos com diversas atividades econômicas e sociais. Visitamos Taguatinga (brevemente) e Águas Claras. Notamos também a verticalização (prédios altos) nesses locais, diferentemente do Plano Piloto que segue um padrão estético distinto.
Tudo isso é projetado para utilização massiva de carros!
Engarrafamentos e mais engarrafamentos na hora do Rush
Imagine você planejar chegar em um local em 30 min, mas se sair entre 8hs e 9hs, você levará 1h ou mais. Isto em uma cidade "planejada", mas infelizmente sem um planejamento adequado para o transporte.
Pegamos vários engarrafamentos durante a semana, o que atrasou alguns passeios, mas nota-se que o Brasiliense que vivencia isso diariamente deve passar uma boa parte da vida nessa tortura motorizada.
Uma cidade sem "Flanelinhas" e cobranças de estacionamento
Você, carioca, já imaginou um Rio de Janeiro assim? Exatamente isso que você leu! Passeamos muito de carro, e como disse anteriormente, em Brasília, tudo ali é planejado para você ir de carro, e dessa forma, muitos locais contam com estacionamentos grandes. Muitos deles não são cobrados! E isso foi constatado nos diversos lugares que visitamos postados aqui neste Blog.
Inclusive em 2 shoppings que fomos (Conjunto Nacional e Águas Claras Shopping), havia estacionamentos públicos em frente! Para mim, carioca, isso é muito surreal, pois estamos acostumados a perder de R$ 20 a R$ 40 em estacionamentos para ir de carro ao shopping fazer alguma compra, e caso não queiramos pagar este valor, somos obrigados a deixar nossos carros em ruas residências distantes, as vezes até perigosas no Rio de Janeiro. Daí você viaja para Brasília, e em frente ao shopping tem um estacionamento público! Fantástico!!
Outro tópico é que com tanto estacionamento grátis por aí, não vimos nenhum "flanelinha" tentando ganhar grana "vigiando" seu carro. Agora, tudo tem seu pró e seu contra... Sem nossos "vigias supremos", Brasília acaba por sofrer com crimes um tanto quanto incomuns... Os ladrões lá roubam as rodas de veículo.... Loucura!
Segue uma notícia para validar o relato:
Oscar Niemayer e as árvores
Brasília foi um quadro branco para o arquiteto Oscar Niemayer. Vemos diversos prédios públicos cuja arquitetura foi projetada pelo famoso Niemayer, mas visitando muitas delas fica evidente uma tendência pela não utilização de árvores integrando o projeto arquitetônico.
Vide abaixo uma vista do Google Maps de projetos do Oscar Niemayer, que ficam próximos um do outro. São eles:
- A Catedral de Brasília
- O Museu Nacional da República
- Biblioteca Nacional de Brasília
O que me faz refletir se um projeto arquitetônico, além de belo, não deveria ser funcional também?
Ou fica aqui a polêmica: será que a funcionalidade foi planejada intencionalmente para evitar que o povo se aglomerasse nesses locais caso houvesse algum tipo de conforto, tipo um banco de praça com sombras agradáveis de árvores ao redor? (Aqui já bateu a teoria da conspiração...😬)
Um fato inegável é que são todos projetos belos, muitos com curvas elegantes em concreto, e recomendo que, tendo em vista não ter que pagar flanelinha, nem pagar qualquer tipo de taxa para estacionar, faça a visita com algum veículo. São distâncias elevadas entre um local e outro no Eixo Monumental, sem árvores no trajeto, portanto caso decida por fazer a pé, considere realizar em um horário com o sol mais ameno.
Uma nova capital, no meio do país, financiada pelo povo e longe do povo.
Esse aqui talvez seja um tópico mais polêmico que possa falar sobre Brasília. Se você tem uma pessoa idosa em sua casa, no Rio de Janeiro, com mais de 65 anos, saiba que ela já morou na Capital do Brasil. Brasília é muito nova, uma cidade construída do zero entre 1956 e 1960, durante o governo JK, e provavelmente, possível apenas com legislação vigente da época. Dificilmente, alguém conseguiria mudar a capital de um local considerando a constituição atual, promulgada em 1988. Vale lembrar que não foi JK, o dono da ideia, pois já havia registros desde Jose Bonifácio, em 1821, que propôs a mudança da capital para o interior do país, com o objetivo de proteger o Brasil de ataques estrangeiros e impulsionar o desenvolvimento do interior, sugerindo até o nome "Brasília" para a nova cidade. Desta forma, motivos sempre vão existir, mas me pergunto:
Faz sentido mudar a capital de um país em 1956? E quem pagou esta conta?
Para responder a primeira pergunta, eu preciso situar um fato importante. Segue uma lista de países que possuem capital no litoral ou próximo dele:
- Portugal: Lisboa
- Moçambique: Maputo
- Finlândia: Helsinque
- Uruguai: Montevidéu
- Venezuela: Caracas
- Grécia: Atenas
- Itália: Roma
- Estados Unidos: Washington, D.C.
- Austrália: Camberra
- Nova Zelândia: Wellington
Esta é apenas uma amostra, e muitos outros países podem ser adicionados à lista. A razão pela qual as capitais estão frequentemente localizadas no litoral pode ser devido à proximidade com portos e transporte marítimo, que são importantes para a economia e comércio. A decisão do Brasil, se assemelha com outros países como a Espanha, em que Madrid fica no centro do país. O fato é que trazer como argumento a invasão de países estrangeiros em 1956, é algo que não me parece muito coerente.
Sobre o segundo argumento, associado a impulsionar o desenvolvimento do interior, construir uma capital do país do zero seria a solução ou falácia?
Considerando o Censo de 2022, a população do Brasil se distribui de forma desigual por suas regiões, com a maior concentração no Sudeste. O Sudeste, com 41,8% da população, é a região mais populosa, seguida pelo Nordeste (26,9%) e pelo Sul (14,7%). A região Centro-Oeste, com 8,02%, é a menos populosa, e a região Norte (8,5%) tem um crescimento populacional mais recente.
Em resumo, com os resultados demográficos apresentados, o argumento de "desenvolvimento do interior" não me convence. Alguns dirão que seria muito pior sem a existência de Brasília, mas fica a reflexão se o mesmo resultado demográfico ou até melhor, poderia ser obtido com outra iniciativa que não fosse a de construir "uma capital do zero". Na verdade, alguns afirmam que o desenvolvimento ocorrido no centro-oeste, não tem relação com Brasília, e é justificado pelo agronegócio, em especial pela EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
E analisando os dados demográficos com mais calma, é preciso reforçar um ponto interessante, com tanta gente vivendo longe de Brasília, nota-se o distanciamento do povo com a capital e centro político de seu país.
Agora refletindo sobre a segunda questão (quem pagou esta conta?)
"A construção de Brasília em 4 anos até a inauguração, em 21 de abril de 1960, custou 12,3% do PIB (Produto Interno Bruto) do país em 1959. Em relação ao PIB do país em 2024, de R$ 11,7 trilhões, o custo equivalente é R$ 1,44 trilhão. O valor é 33% maior do que a despesa com previdência que o governo federal terá em 2025..."
Fonte: https://www.poder360.com.br/brasilia/construcao-de-brasilia-custou-12-do-pib-brasileiro/
Um vídeo bem bacana explicando alguns fatos referente ao cálculo dos custos da construção de Brasília também pode ser encontrado aqui:
Fato é que muito difícil ter uma noção exata do custo necessário para construção de Brasília, devido a uma série de fatores, mas os números giram em torno desses mencionados nas fontes acima. Fato é que o país não tinha condições de fazer esta obra faraônica em apenas 4 anos, e o resultado foi o aumento vertiginoso da inflação. No final das contas, a resposta é clara, quem pagou esta conta fomos nós (povo brasileiro, que na sua grande maioria, vive bem distante de Brasília).
Por fim, respondidas estas perguntas, cabe mais uma reflexão para este carioca que aqui vos fala. O quanto o Rio de janeiro seria diferente se aqui permanecesse a capital do país. Reflita:- Será que a criminalidade seria tão elevada como nos dias atuais, considerando a existência de uma capital na cidade do Rio de Janeiro?
- O quanto esse dinheiro, gasto em Brasília, poderia ter reverberado de forma positiva tanto no RJ, como nos demais estados através de obras de infraestrutura e saneamento?
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